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  • Foto do escritorAne Caroline Costa

Casais e a ficção (Quero um Romance, por favor!)



Meus queridos! Olá!


Sei que estou um pouco sumida, mas quem é vivo sempre aparece! Geralmente na hora errada — e geralmente nos romances! Então o post de hoje é dedicado aos casais de Romance!


Ai gente, essa é a coisa que mais amo no mundo — escrever sobre relacionamento! É tudo de bom! Acho fascinante e instigante a predisposição humana de se juntar, doar e dividir a vida com outra pessoa! Não é lindo? Não é à toa que tantos livros são sobre relacionamentos!


Hoje vou falar de química e apresentar alguns tropes de romances para vocês!



 

Química




Então, por que não dá para falar de casal sem falar de química? Simples, para ter um casal que vai fazer o leitor torcer, tem que ter química!

Mas o que é a química e como fazer a química acontecer? O que eu percebi, nessas minhas andanças pela literatura, é que essas duas coisas são diferentes. Química pode existir não somente entre casais românticos, mas entre outros personagens da trama. Aqui nós vamos focar nos casais românticos.

Então a química é como a interação entre seus personagens acontece. Estou falando das borboletas! Dos foguetes!

Na superfície, a química é aquele diálogo que flui (muitas vezes com provocação, com conotações sexuais), um uso de um apelido carinhoso, atração física (quando os personagens se olham, sorriem um para o outro), e aquela sensação de estar confortável perto de alguém. Mas tudo isso é só o básico, porque essas coisas não fazem a química, e são sim o resultado da química.

Então como criamos a química? Quem aí já leu “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen? Nesse livro, os protagonistas, Elizabeth e Darcy, precisam desfazer as más impressões um do outro através do aprendizado. Eles precisam deixar de ser orgulhosos e preconceituosos. E eles somente conseguem fazer isso juntos.

Essa é a questão essencial da química entre o casal. Criamos química quando dois personagens são inspirados a mudar alguma característica fundamental através de seu relacionamento. Isto é, eles têm química se eles são cataclistas na mudança que ocorre no outro.

Do que precisamos para criar química? Dois personagens desenvolvidos, com suas motivações, objetivos, e perspectivas de mundo bem definidas, e conflitos. Uma trama bem organizada que vai puxar os personagens um para dentro da vida do outro em interações diversas. Mas aí a gente precisa de outro post (ou outra série) para falar de conflito.

Então, resumo da ópera. As personagens têm química quando tem algo que falta no outro e vice-versa. A química surge quando eles podem aprender e crescer com o relacionando. E o resultado dessa química é aquele sorrisinho tímido e aquelas tensões na hora das interações.

 

TROPE 1: De Amigos a Amantes



Quando escrevemos romances, evidentemente, temos algumas convenções de gênero a seguir. Nesse tipo de livro, a gente espera um encontro, um primeiro beijo, um rival amoroso. Essas são convenções básicas do gênero de romance. Vou chamar de gênero para não criar caso, mas vocês sabem que, na verdade, o romance é um subgênero da ficção, né? Ok, seguindo...

Já o “trope” – alguém sabe como fala isso em português? – são as maneiras específicas de trabalhar as convenções de gênero. E um trope muito comum é o “De Amigos para Amantes”. Tipico “Emma” de Jane Austen.

O problema das “tropes” – de todas elas – é que elas são previsíveis. Enquanto isso é um problema, pode não ser. Quando estamos escrevendo um subgênero específico de ficção, algumas coisas são “esperadas” pelos leitores e está tudo bem. Um livro não é somente sobre “o que acontece”, mas a maneira como se conta a história. Isso é que vai deixar o leitor agarrado ao seu livro, virando as páginas.

O que eu acredito ser mais importante nessa trama é realismo. Ok, quem já leu meus trabalhos sabem que eu sou realista em tudo e até demais! Mas você precisa fazer essa transição de amizade para romance bem. Isto é um fato difícil de contestar.

Quem já se apaixonou pelo melhor amigo sabe que as coisas ficam ESQUISITAS para dizer bem pouco. Então penso que o melhor conselho é abraçar a esquisitice. Imagine que seus “melhores amigos” costumavam tomar banho pelados no rio juntos e de repente estão apaixonados – gente! Desculpe, mas isso é muito estranho.

Eu gosto de seguir as seguintes regras para muitos dos romances que escrevo: 1) fundação. 2) Construção. 3) Momento marcante. 4) conflito. 5) decisão. 6) Resolução. Acredito que isso me ajuda a montar a trama sem problemas de se perder no meio da coisa.

Nesse primeiro passo, fundação, precisamos gastar algumas páginas falando do relacionamento antes do romance. Isto é, a fundação da amizade desses personagens, por que eles são amigos?

Na construção começamos a lidar com o romance. Pode ser uma coisa simples da adolescência, do crescimento, ou algo que vai despertar ciúme, como um terceiro personagem, enfim. É importante que – mesmo que seus personagens não percebam – você como autor saiba o que faz o sentimento deles um para com o outro mudar.

No momento Marcante, o personagem percebe que está apaixonado. Lembra de “Emma”? Quando ela percebe que o Mr. Knightley pode estar apaixonado por outra pessoa, ela percebe que o amava desde sempre.

A partir daí, vem o conflito – seu personagem vai ficar na dele, não fazer nada, ou vai agir? Decisão, que é claro seu personagem vai decidir o que fazer (vai declarar seu amor e colocar em risco a amizade?) e a Resolução – eles vão ficar juntos ou não? Esses últimos passos precisam ser pensados juntos, pois eles podem trazer o conflito interno dos seus personagens a tona.

Agora, nem todo “De Amigos a Amantes” precisa ter um casal se formando no fim. Tudo bem, é isso que acontece em “Emma”. Mas se pensarmos em “Mulherzinhas,” Laurie e Jo (são lágrimas nos seus olhos?) nunca ficam juntos. E a gente vai passar a vida inteira odiando a Amy – e talvez o que faltou no Laurie e na Amy foi o trabalho da fundação e construção.

Ai, que tristeza!



 

De Inimigos a Amantes


Essa é a minha “trope” preferida da vida! Aliás, você pode esperar isso do meu romance, “Eva. Vanguarda”? Não vou dizer, vocês vão ter que ler para saber!

Então, como o nome diz, nessa trope, os personagens começam se odiando e depois notam que são – na verdade – perfeitos um para o outro. Apesar de ser uma trama delícia, pode dar muito errado, gente! E um exemplo é aquele filme 365 dias. Gente! Muitos problemas ali! Aquilo precisa de um post separado. Então vamos seguir...

Então, o que é tão difícil dessa trope é que precisa de muito desenvolvimento de personagem para que o que antes faziam esse casal se odiar se torne algo que os una, e que isso seja realista para o leitor. É difícil, mas vale a pena! Um dos mais famosos romances com esse “trope” é “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen. Ultimamente tenho visto várias pessoas falando que esse “trope” foi inventado por Austen. Primeiro, ninguém inventa nada na literatura. Segundo, “A megera domada” de Shakespeare é um clássico “De inimigos a amantes” e foi escrito duzentos anos antes, provavelmente copiado de alguma outra coisa (por que isso era o que o velho misógino mais gostava de fazer). Desabafei, agora vamos seguir...

Como disse no post anterior, eu sigo basicamente as mesmas regras para o romance. : 1) fundação. 2) Construção. 3) Momento marcante. 4) conflito. 5) decisão. 6) Resolução. Só que aqui as coisas que você precisa fazer em cada uma dessas etapas são diferentes.

Na fundação e construção, você precisa estabelecer com clareza o que é que faz esses personagens se “odiarem” tanto. Precisa ter um motivo realista para essa tensão, essa negatividade de julgamento entre seus personagens. Em “Orgulho e Preconceito”, por exemplo, Elizabeth não gosta do orgulho e arrogância de Darcy, enquanto Darcy não gosta da família da Lizzie e diz que ela não é bonita, apenas tolerável. Há! Pronto! Fundação concluída!

O que eu acredito que faz toda a diferença é ter um ponto de “amizade” entre o ódio e o romance para você trabalhar a química. Fica muito irreal se os personagens forem de ódio para romance em um piscar de olhos (tipo 365 dias – huh). Dê aos seus personagens tempo para se conhecerem e mudarem de ideia um sobre o outro.

Nessa parte entre conflito, decisão e resolução, acho que é sempre gostoso quando tem aquela “resistência.” Tipo, seu personagem não entende muito bem o que está acontecendo, quando que começou a se apaixonar pelo “inimigo.” Tipo o Sr. Darcy quando diz sobre amar a Elizabeth “eu estava no meio quando notei que tinha começado.” Ai gente, fala sério...

 

Triângulos Amorosos



Eu sei, ninguém mais aguenta Triângulos Amorosos. Esse “trope” está velho mesmo, gente. E é por isso que a gente precisa pensar em maneiras de reiventá-lo.

A resposta para todos os problemas na escrita é profundidade e personagens bem construídos. Se você não ficar na superfície, José ama Ana que ama João, então as chances é que vai dar certo. Muito disso vêm de saber o que não fazer com seus triângulos.

Primeira regra de Triângulos Amorosos – não pode estar na cara quem seu personagem vai escolher no fim das contas. E isso é possível, se seu personagem está insierido em um triângulo amaroso que disperta o conflito interior, que faz o personagem repensar e encarar seus medos (sejam eles quais for, medo da solidão, da rejeição, do abandono).

Na verdade, essa não é uma regra para romances somente, o conflito interno é uma REGRA geral para todos os aspéctos da sua história. Como seres pós modernos, nós estamos ligados em nós mesmos, tentando resolver nossos conflitos interiories, e é isso que a literatura (desde Hamlet) vem se focando.

O que é legal sobre triângulos amorosos é a escolha. O protagonista precisa escolher. Mas a escolha não pode ser simplesmente “vou escolher fulano ou ciclano?” Essa escolha tem que mexer no âmbito do medo do seu protagonista. Por que no fundo o medo do seu personagem é o que impede tudo de acontecer, o que o impede de fazer as escolhas certas.

SPOILER ALERT de GUILMORE GIRLS! Eu adoro o Triângulo Rory-Dean-Jess na terceira temporada de Guilmore Girls. Gente, é muito triste deixar de amar alguém, e a Rory fica lutando contra isso o tempo inteiro quando ela começa a gostar do Jess. Mas enquanto o Dean é esse namorado perfeito, maravilhoso, alto, bonzinho, o Jess é todo maluco (mas ainda assim, Jess e Rory tem uma super química, porque eles tem coisas em comum e um tem o que falta no outro – Falta perspectiva no Jess (o que a Rory tem até demais) e falta originalidade e espontaneidade na Rory (o que o Jess tem até demais).



 

Amor à primeira vista.



Eu acho que só tem uma coisa mais chata que triângulo amoroso mal feito e isso é “amor a primeira vista.”

A primeira coisa que eu preciso deixar claro é que eu realmente NÃO acredito que exista amor a primeira vista. Mas muitos autores escrevem como se existisse, e talvez o que eles estejam realmente escrevendo seja “atração à primeira vista” e isso é absolutamente possível!

Tudo depende do que você quer fazer na sua história. Às vezes, a sua história vai se passar em um ou dois dias, então você vai precisar de uma “atração à primeira vista” para mover a história de romance. Vai precisar ser rápido – química, borboletas, foguetes!

Quando estamos escrevendo, temos de considerar 3 tempos. O tempo que você autor leva para compor a história. Isto por que quanto mais tempo você passar pensando e trabalhando seus personagens, mais química e mais amor eles vão “parecer” ter para você. Então, você autor precisa considerar o tempo da narrativa (isto é, quanto tempo passa no decorrer da narrativa – dois dias, uma semana, um verão, um ano). Depois, o tempo da leitura – quanto tempo vai levar para seus leitores lerem a sua obra.

Pegue um livro como “Ullisses,” de James Joyce – a narrativa se passa em 24 horas, mas parece que é quinze anos! Tudo isso por causa do passo da história. O leitor precisa ter a sensação de que a história está progredindo num tempo psicológico, emocional e não somente físico. Pode ser um dia somente na vida dos seus personagens, mas o que eles viviem precisa ser muito intenso. Se apaixonar é algo que leva em conta o tempo emocional de contato com outra pessoa – e não somente o tempo físico (meses, anos – tanto que algumas pessoas passam a vida sendo amigos e nunca se apaixonam).

Se o passo da história emocional está realista, importa quanto tempo realmente se passou na narrativa? Pense em “Enrolados” – da Disney. Sim! A narrativa se passa em dois dias, e no final, eu não sei de vocês, mas eu super comprei o casal. Isso por que eles passam MUITO tempo juntos, eles brigam, eles riem, eles confidenciam coisas mais profundas sobre solidão e abandono, e no final eles estão apaixonadíssimos. (Isso são lágrimas nos seus olhos?). Não é à primeira vista mas acontece num curto período de tempo.

O que acontece é que há um progresso emocional e ele é natural. Os personagens estabelecem e constróem uma segurança e confiança entre eles, e isso faz nascer algo mais profundo. Fazer os personagens mostrarem o amor atraves de um ato de altruísmo é também muito importante para selar que o que eles estão sentindo é amor.

 

Encontro fofo (minha péssima tradução para "meet cute")

Por ultimo, vamos falar do “Encontro Fofo”. Essa tradução horrorosa é para se referir ao “Meet Cute” – que é o trope em que os personagens se conhecem de uma maneira “fofa” e o relacionamento se desenvolve a partir daí. Típico “When Harry Met Sally”.

Esse é provavelmente o mais comum trope de casais. Tipo quando Jane em “Jane Eyre” encontra o Mr. Rochester sem querer na estrada, e aí quando ela chega na casa onde vai ser governanta, descobre que ele é o dono do palacete. É uma ótima maneira de instigar o leitor que aquele personagem que parecia sem importância é, na verdade, super importante. E o leitor vai esperando pelo momento em que esses personagens vão se encontrar e começar a passar muito tempo juntos.

Fazer esse primeiro encontro ser bem constrangedor ou engraçado pode ser uma ótima para os eventos do futuro, quando os personagens já estiverem juntos e se lembrarem de como se conheceram. Aquela ironia gostosa que todo mundo ama. E você sempre pode fazer o leitor se lembrar daquele “encontro” de maneira sutil ao longo da narrativa.

Acho que as pessoas gostam tanto desses “encontros fofos” pois eles são o que mais se aproximam da realidade – o acaso. O acaso na narrativa e na vida é algo comum que ninguém nunca espera, e geralmente acontece. Algumas pessoas podem dizer que nem existem acasos, e tudo já estava “escrito”. De qualquer maneira, os personagens nunca sabem o que está por vir, e isso já é fofo e inesperado assim como a maior parte das experiências individuais e reais no amor.

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