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  • Foto do escritorAne Caroline Costa

Descrevendo personagens - algumas reflexões!


Vamos começar a falar de descrição de personagens?


O que você geralmente se foca, aparência? Personalidade? Você faz isso imediatamente ao apresentar a personagem ou vai trabalhando na trama?


Vamos direto ao terreno pedregoso e perigoso das descrições de pele. Tem um blog maravilhoso que se chama “Writing with color” que dá várias dicas de como escrever sem ser racista.


O maior erro quando escrevemos qualquer personagem é imaginar que pessoas da mesma etnia são iguais. Por exemplo, todas as pessoas brancas têm pele de “porcelana” e todas as pessoas negras têm pele de “chocolate.”


Passar a complexidade da textura e cor da nossa pele é um dos exercícios mais difíceis da literatura. E vamos fazer isso sem fetichização da pele do coleguinha, por favor!

Vocês já brincaram de misturar cores quando crianças? Pois é, eu gosto de fazer isso quando estou descrevendo a pele dos meus personagens. Se você reparar, os tons de base também são geralmente hifenizados. Essas palavras hifenizadas são usadas para indicar o tom e subtom da base. Por exemplo, uma base da Mary Kay Beije 402 significa Tom rosa com subtom oliva.


Então, se eu vou descrever fulaninha com um tom de pele dourada, estou fazendo referência somente ao tom principal da pele dessa pessoa. Porém, se disser amarelo-dourada, isso já dá outra pigmentação. E por que não dar aquela pitada artística a descrição e dizer “sua pele amarelo-dourada como as dunas do Saara”?


E o primeiro mandamento da descrição é, evitaremos comparar personagens negros com comida. Porque gente, já chega. Confiram o post da @Tay para o que não usar quando descrevendo suas personagens.


Outro problema que encontramos muito é que os autores pensam que somente precisam indicar o tom de pele das personagens quando elas não são brancas. Acontece que pessoas brancas também tem cor de pele – pasmem! E chega da maldita porcelana!

Fica a dica.


Quer uma lista de cores? Aí vai! bronze cobre (marrom, amarelo, rosa) escuro (marrom, amarelo, rosa) intenso ébano dourado pálido pastoso claro (marrom, amarelo, rosa) cremoso (marrom, amarelo, rosa) marfim bisque leite giz (marrom, amarelo, rosa) Oliva pêssego rosa / rosada (marrom, amarelo, rosa) avermelhado

A descrição de olhos também é algo que, às vezes, entra no terreno pedregoso do que é considerado "exótico".


Você sabia que os olhos mais comuns são castanhos? E os verdes são os mais raros? Pense nisso antes de colocar aquele monte de gente de olho azul e verde na sua historinha.

Antes de falar sobre descrever cor de olhos, vamos falar de formato? Primeiro, muitos autores não descrevem o formato de olho de um personagem, a não ser que seja asiático, como se os “olhos puxados” fosse o diferencial, quando, na verdade, é só mais um formato de olho. Inclusive, existem vários tipos de olhos somente naquela região.

O que fazer? Eu gosto de assistir tutoriais de maquiagem para ver formatos de olho. Maquiadores sabem tudo sobre tom de pele e formato de olho. Existem muitos formatos de olho, gente. Os olhos podem ser grandes, pequenos, estreitos, redondos, separados, juntos, com muita ou pouca pálpebra, com muito ou pouco cílio.

Cor de olho, assim como a cor da pele, nem sempre está clara quando usamos somente uma cor. O famoso castanho, na verdade, envolve uma generalização, já que os olhos castanhos podem ser escuros, intensos, claros, enfim. Eu gosto de ir além e comparar com joias, matéria-prima, metais, natureza. Comida – bom, isso é interessante. O famoso “olho de jabuticaba” é muito usado no Brasil, e eu até penso que tem algo de poético nisso. Mas, na regra geral, vamos ficar longe da comida na descrição, e está tudo certo. Ou, pelo menos, não ficar só na comida. Dar aquela variada básica sempre ajuda.


O que você enfatiza nas suas descrições? O físico ou o psicológico?


Eu confesso que priorizo a descrição física e faço isso deliberadamente – porque eu não quero entregar como as minhas personagens são psicologicamente “de uma vez”. Quero construir suas personalidades no enredo da história. As pessoas me perguntam porque o meu livro é tão grande – é por isso gente. São 700 páginas de construção de personagem, sem zoeira.


Eu acredito que diálogos e enredo servem para duas coisas principais, estabelecer a motivação e a personalidade das personagens. Então estabeleço a personalidade mostrando, por exemplo, como os personagens agiram em determinadas situações passadas, e assim o leitor pode ter uma ideia de como aquela personagem vai agir no futuro.


Por exemplo, tenho uma personagem que tem muita dificuldade em perdoar as pessoas. Cria ódio, ranço mesmo das pessoas que agem mal com ela. Então, evidentemente, essa personagem vai ser colocada em uma situação ruim logo de cara. E talvez toda a narrativa dessa personagem possa ser ao redor de “aprender a perdoar alguém”.


Afinal, de que adianta dizer logo de cara, “fulaninho não consegue perdoar o próximo” e não colocar essa personagem passando por algo em que ela precisa aprender a perdoar? Personagens precisam de duas coisas essenciais – uma motivação e algo que os impede de conseguir isso. Conflitos externos e internos podem ser essa coisa que impede a personagem de conseguir o que quer. E talvez seu personagem quer ter uma relação especial com a pessoa que ela precisa perdoar – por que não?



O que você pensa quando uma personagem é descrita como uma pessoa bonita? Qual é a imagem que vem na sua cabeça? O crush da adolescência? A Kate Winslet? O Bruno Mars (suspiros...)?

Acredito que algo muito comum que lemos nos livros é que os personagens são bonitos. Além de isso ser algo que diz sobre nossas criações coloniais (valorizando – entre outras coisas – a beleza ocidental branca), é algo que não condiz muito com a realidade. Quando lemos “aqueles lindos olhos azuis” parecemos condicionados a aceitar que pessoas de olhos azuis são – naturalmente – bonitas. Tudo bem, você pode até achar isso, mas acontece que a beleza não é algo direcionado a atributos físicos. A beleza é uma questão de perspectiva.

Há dois tipos de perspectiva – a perspectiva dos outros, e a perspectiva interior – e o ideal é lidarmos com ambas nas histórias. Como os outros vêm sua personagem? Todo mundo acha essa pessoa bonita (é raro que alguém seja tão bonito assim, capaz de ser entendido como bonito por todos – a não ser, é claro, o Bruno Mars e o Chris Hamsworth). A verdade é que talvez essa pessoa seja bonita para alguns, mas não para outros.

E, por fim, como a sua personagem se vê? Ok, aquela ceninha de abertura da sua personagem se olhando no espelho é cafonérrima, mas ela tem um propósito – mostrar para o leitor a autoimagem da personagem. É muito importante estabelecer como a personagem se vê e se entende no mundo. E isso pode ser até o problema que ela precisa enfrentar no seu dia-a-dia – caso ela tenha traumas de bullying e coisas do tipo.



Quando é a melhor hora para descrever sua personagem? Temos de tacar tudo assim que ela entra em cena? E se deixarmos para depois, o leitor pode ter uma imagem errada dessa personagem?

Recentemente li um livro (péssimo de passagem, nem vou colocar o nome, porque não recomendo) em que o vilão mor não é caracterizado. Tipo, nada. Não fala nada sobre ele. Nem a cor do cabelo. Nada. Daí, eu me peguei pensando – por que não falar? Faz diferença não falar?

Não descrever é uma escolha do autor, que eu respeito, mas quero jogar o livro fora quando acontece. Por que diabos não se descreveria um personagem tão importante quanto o antagonista, o vilão que quer matar a garota? Na minha mente, fico imaginando uma sombra atrás da pobre mulher.

Apesar de que eu não acredito que precisamos colocar todas as informações da personagem quando ela aparece da primeira vez (a não ser que você tenha uma razão para fazer isso), gente, um pouquinho pelo menos a gente precisa ter. Por favor, né? Toda personagem que se preze tem aquela marca importante – que hora ou outra se repete na história. A cicatriz do Harry Potter, por exemplo. O antagonista desse livro bosta que eu li, a única coisa que sabíamos sobre ele era que gostava de ser chamado “Chuckles” porque matava as pessoas as enforcando. Afe! Isso não me dá nada.

Gosto quando a descrição vem junto da ação. Hoje em dia, ninguém mais tem paciência para ler 3 parágrafos falando somente do físico de uma personagem. Mas acredito que para as personagens principais, isso precisa ser feito o quanto antes. Principalmente porque você quer trabalhar as características físicas mais marcantes no decorrer da trama.


Aqui vão algumas referencias que podem ser uteis!

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